16 de jun. de 2020

Homeopatas lançam plataforma para ajudar pacientes de covid-19 Consultas gratuitas serão feitas remotamente por cerca de 600 médicos voluntários. Remédios vão ser vendidos a preço de custo

Quando o príncipe Charles, filho mais velho da rainha Elizabeth II, anunciou, no final de março, que estava curado da covid-19, parte da imprensa britânica se apressou a atribuir a recuperação à homeopatia. Charles é um dos mais famosos adeptos da medicina homeopática, assim como a própria rainha que, segundo os tabloides ingleses, não abre mão dos seus vidrinhos de Arsenicum album, Cocculus indicus e Arnica. Mesmo assim, não é possível garantir que esses pequenos glóbulos tenham sido os responsáveis pela recuperação do herdeiro ao trono. O príncipe teve sintomas leves da doença e seguiu à risca as recomendações de isolamento social.

De qualquer forma, a foto aí de cima mostra que a legião de seguidores da medicina homeopática não se restringe ao príncipe Charles e à rainha Elizabeth, e nem ao Reino Unido e à Índia, sua antiga colônia. Em um artigo para a Revista de Homeopatia, o Dr. Marcus Zulian Teixeira, homeopata e professor da USP, diz que cerca de metade da população mundial já faz uso de alguma técnica de Medicina Alternativa e Complementar (CAM, na sigla em inglês), como a acupuntura, a homeopatia e a fitoterapia.

Por isso, não é de se estranhar que, em várias partes do mundo, homeopatas venham se mobilizando para ajudar na batalha contra a maior crise sanitária dos últimos cem anos. No Brasil, a Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB) está lançando a campanha “Homeopatia na Covid” para auxiliar pacientes no país todo. A partir de hoje, dia 15 de junho, qualquer pessoa que tiver dúvidas ou estiver com sintomas da covid-19 pode entrar no portal homeopatianacovid.com.br, preencher o cadastro e responder a um questionário homeopático específico para a covid-19. Um dos 600 médicos homeopatas voluntários fará a análise das respostas e entrará em contato com o paciente através de um sistema de telemedicina.

Ok. Até aí tudo bem. Mas, afinal, a homeopatia pode mesmo curar a covid-19? O presidente da Associação Médica Homeopática Brasileira, Dr. Luiz Darcy Gonçalves Siqueira, garante que não: “A Homeopatia não cura a covid-19. Ela apenas auxilia o paciente na recuperação da saúde. Quem se cura, se o remédio estiver adequadamente semelhante ao quadro do doente, é o próprio paciente. Por isso, o mais correto é dizer que a Homeopatia ajuda na prevenção e funciona como um estímulo à recuperação da saúde dos pacientes assintomáticos e dos doentes”.

A Homeopatia existe há mais de 200 anos, é recomendada pela OMS como medicina integrativa e complementar e é reconhecida como especialidade médica no Brasil desde 1980. De acordo com o site da campanha, o seu criador, o alemão Samuel Hahnemann, já descrevia o êxito no uso da homeopatia na profilaxia da epidemia de escarlatina, em 1799: “O resultado foi corroborado por outros médicos usando o mesmo medicamento em uma nova epidemia da doença na década de 1820. Medicamentos homeopáticos também foram usados nas epidemias de cólera asiática em 1831-1832 e 1849 na Europa, difteria em Nova Iorque entre 1862-1864 e na gripe espanhola nos EUA, em 1921”, registra a apresentação do site.

Apesar disso, o Dr. Luiz Darcy refuta a ideia de que a homeopatia seja o tratamento mais adequado para o combate as epidemias e pandemias: “O trabalho do homeopata é colaborativo e integrativo aos demais tratamentos. Historicamente, quando o atendimento é feito por profissionais competentes, consegue-se alcançar resultados importantes na média dos pacientes tratados, especialmente na redução do número de óbitos”

Um dos coordenadores da campanha, o Dr. Francis Mourão, da Escola Homeopática de Curitiba, explica que a “Homeopatia na Covid” será uma ação complementar a todas as outras iniciativas de prevenção e tratamento relacionados à covid-19 instituídos pelas autoridades sanitárias do país: “Em uma pandemia, o objetivo dos homeopatas é buscar um fator comum que una os pacientes, um conjunto de sintomas peculiares, que chamamos de “gênio epidêmico”. Com isso, é possível identificar os medicamentos que possam estimular o organismo a reagir além do que ele já reagiria normalmente”. Os pacientes cadastrados no site poderão adquirir os medicamentos, com preço reduzido, nas farmácias homeopáticas cadastradas na campanha. Os médicos farão um monitoramento evolutivo do paciente em períodos que variam de 20 a 30 dias.

Agostinho Vieira

Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Foi repórter de Cidade e de Política, editor, editor-executivo e diretor executivo do jornal O Globo. Ainda na Infoglobo, empresa que administra os jornais O Globo, Extra e Valor Econômico, exerceu por oito anos a função de diretor executivo de Negócios. Também foi diretor do Sistema Globo de Rádio e da Rádio CBN. Ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1994, e dois prêmios da Society of Newspaper Design, em 1998 e 1999. Tem pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Insead (Instituto Europeu de Administração de Negócios) e em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ. Atualmente é Editor Chefe do Projeto #Colabora.

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