Menopausa
não é doença. É um marco biológico inserido num período de transição da
existência feminina que traz inúmeras transformações que exigem adaptações no
âmbito físico, psíquico e social.
Os
argumentos utilizados para defender os benefícios da Terapia de Reposição
Hormonal (TRH) na Menopausa são muitos e de fato impressionam: O tratamento irá
prolongar a juventude do sexo feminino, rejuvenescerá a pele, ao mesmo tempo
que diminuirá fraturas, ajudar a prevenir a osteoporose e a atrofia vaginal,
diminuir a secura vaginal, a dor à penetração, além das infecções ginecológicas
e do trato urinário e, ainda, melhorar o perfil lipídico e atrasar o
comprometimento cognitivo preservando a memória e retardando o aparecimento de
demências como a de Alzheimer. Ou seja, é um tratamento que, teoricamente,
evita o envelhecimento e previne doenças em mulheres.
A TRH (Terapia
de Reposição Hormonal) na Menopausa é um tratamento muito sedutor para as
mulheres, pois suaviza as mudanças e os profundos sentimentos de nostalgia do
fim de seu período fértil e de uma juventude passada. A mulher muitas vezes não
consegue aceitar a nova forma de viver a sexualidade, a mulher costuma associar
o período da fertilidade à máxima expressão de saúde.
A menopausa
consiste em mecanismos complexos que envolvem a cessação da ovulação e da
menstruação, acompanhada de alterações hormonais como a diminuição de
estrogênio no sangue. A TRH reestabelece os níveis hormonais e reverte os
desconfortáveis sintomas da menopausa, principalmente os fogachos e sudorese.
Portanto,
parece óbvio que a TRH é benéfica e deve ser utilizada de forma generalizada.
Porém, não é isso o que indicam os principais estudos científicos neste tema.
Na verdade, não existe fundamento científico para se indicar de forma
generalizada a TRH, pois os desfechos finais de Infarto Agudo do
Miocárdio (IAM) e efeitos oncogênicos (cancerígeno) aumentam em
mulheres tratadas com terapia hormonal. Além disso, é conhecido o efeito
pró-coagulante da TRH, que explica o aumento de trombose e embolia.
Desta forma,
a TRH melhora resultados intermediários (desconfortos), mas tem impacto negativo
sobre os desfechos finais (aumento de ataque cardíaco, câncer e derrames).
Tais
desfechos finais prejudiciais da TRH foram finalmente publicados em 2002, no
JAMA – Journal of The American Medical Association, com os resultados de um
ensaio clínico extraordinário, envolvendo milhares de enfermeiras
norte-americanas que tinham entre 50 e 79 anos, randomizadas para receber TRH
ou placebo, o famoso estudo “Women´s Health Initiative” (WHI):
jama-womens-health-initiative-2002
A Terapia de
Reposição Hormonal (TRH) foi associado a um maior número de ataques cardíacos,
câncer de mama e embolias pulmonares.
O estudo
teve de ser encerrado inesperadamente depois de 5,5 anos, bem antes do
previsto, porque os riscos da exposição hormonal excederam os benefícios:
As mulheres
tratadas com TRH tiveram 29% mais ataques cardíacos, 41% mais derrames
cerebrais, aumento de 113% de embolias pulmonares e 26% de câncer de mama. As
demências aconteceram com o dobro de frequência nas mulheres que receberam TRH.
O uso de TRH
foi associado a um aumento epidêmico de ataques cardíacos, câncer e derrames,
com aumento na mortalidade. Por exemplo, estima-se que no Reino Unido mais de
55.000 novos casos de câncer de mama entre as mulheres de 50 e 64 anos foram
produzidos pela TRH.
Desde a
publicação do WHI em 2002, nenhum médico razoavelmente informado deve defender
de forma generalizada a TRH, o médico bem treinado e capacitado sabe que a TRH
deve ser de indicação restrita e criteriosa, pois de forma geral, a TRH é uma
intervenção médica desnecessária e traz mais danos do que benefícios para a
maioria das mulheres.
O médico de
Saúde Pública, Dr. Juan Gérvas, descreveu de forma enfática sobre TRH em seu
livro “São e Salvo” de 2016:
Prof. Dr.
Juan Gérvas
Como
poderiam ser tão arrogantes os ginecologistas e epidemiologistas que propuseram
e mantiveram a prevenção cardiovascular primária em mulheres com TRH? Houve
colisão de interesses industriais e médicos com uma filosofia e cultura sexista
que queria uma mulher plena para sempre, além da soberba de uma epidemiologia
que deu apoio estatístico a uma tese insustentável.
A Cochrane
Review publicou dados em 2012 em que foi possível fazer uma estimativa final
dos prejuízos causados pelos danos da TRH na Espanha. Neste estudo, concluíram
que a TRH provocou 23 mil cânceres de mama, 35 mil casos de tromboembolismo, 27
mil derrames encefálicos e 20 mil ataques cardíacos.
A TRH
transformou milhões de mulheres no mundo em doentes, com visitas ao médico,
exames e outros procedimentos e intervenções desnecessárias, além das doenças
graves que desencadeou, como aumento no número de câncer de mama, ataques
cardíacos e embolias pulmonares, com aumento correspondente no número de
mortes.
A prevenção
da menopausa com TRH pode ter gerado um enorme comércio:
A prevenção
da menopausa com TRH aumentou os gastos em saúde, devido ao crescimento do
número de consultas médicas, exames e medicamentos, para uma doença que pode
não existir, uma vez que a menopausa e o climatério constituem mais uma etapa
na vida das mulheres, com suas vantagens e desvantagens.
Dr. Peter
Gotzsche, diretor da Nordic Cochrane, demonstrou em seu livro “Medicamentos
mortais e crime organizado” de 2016, que a indústria farmacêutica Wyeth,
visando aumentar os lucros, estimulou iniciativas para aumentar a venda de
medicamentos para TRH. Entre elas, de forma secreta, financiou o livro Feminine
Forever (feminina para sempre), escrito por um médico dos EUA. Este livro
enviesado com finalidade mercantilista para estimular e defender a venda de
medicamentos de TRH, foi finalmente desmascarado com a publicação do artigo de
2005 cujo título era: “Powerful Medicines: the benefits risks and costs of
prescription drugs”:
A indústria
farmacêutica estava por trás de muitas iniciativas para estimular as vendas de
medicamentos da TRH
Já a Empresa
farmacêutica Novo Nordisk, depois que foi descoberto que os hormônios da TRH
são prejudiciais, contratou uma empresa de relações públicas alemã que enviou
cartas aos médicos minimizando os danos da TRH, com a intenção de manter e
estimular prescrição e a venda dos
medicamentos de TRH. Novamente a indústria farmacêutica visando o lucro e
exploração financeira em detrimento da saúde da população. Este fato foi
descrito no seguinte artigo científico publicado em 2003 no British Medical
Journal.
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