14 de mar. de 2017

História dos Medicamentos Homeopáticos





Hahnemann preparava seus próprios medicamentos, pois não dispunha de farmacêuticos de sua confiança, e que com ele participassem do estudo da homeopatia e o desenvolvimento dos novos medicamentos, que eram tão diferente dos da época, bastante agressivos e tóxicos. Hoje a situação é outra, e são os farmacêuticos homeopatas os responsáveis pelo preparo dos medicamentos homeopáticos e a dispensação das prescrições.

Mas, voltando a Hahnemann, é interessante notar que ele diluiu os medicamentos para diminuir sua ação primária, e muitas vezes até mesmo sua toxicidade. Em seguida, passou a agitá-los, percebendo que sua ação aumentava. Assim criou uma farmacotécnica própria, com seus medicamentos dinamizados. Uma importante consequencia que a diluição traz é a ausência de matéria, a impossibilidade de comprovar a presença de princípios ativos e a dificuldade para explicar o mecanismo de ação dos medicamentos, constituindo-se em um ponto frágil para aceitação desta terapêutica.

De qualquer forma, sabemos que a homeopatia foi sendo divulgada para outros países, já na época em que Hahnemann vivia. Era necessário produzir medicamentos. Surgiram as primeiras farmacopéias homeopáticas. Korsakov, um militar e proprietário de terras na Rússia, para contornar dificuldades para dinamizar medicamentos durante campanhas do exército, propôs um método diferente, mais prático, pois utilizava apenas um frasco para o preparo de qualquer diluição. Korsakov foi também o responsável pelo conceito de “estojos” de medicamentos, que possibilitavam a prática homeopática com o próprio homeopata fornecendo o medicamento ao paciente.

Também já naquela época, e seguindo as idéias da revolução industrial, outros homeopatas, procurando diminuir o trabalho manual, apresentaram máquinas que poderiam substituir o agitação manual. Farmacêuticos e homeopatas com espírito empresarial começaram a se ocupar da produção de medicamentos nos diversos países.

No Brasil, a homeopatia chegou trazida pelo francês Benoit Mure, que também dispunha de sua botica de medicamentos. Sabe-se que durante uma época, os medicamentos eram importados prontos da Europa e só revendidos aqui. Ou então, as dinamizações chegavam prontas e só eram veiculadas e dispensadas por farmacêuticos brasileiros. Na segunda metade do século passado foram aparecendo farmácias nas principais cidades brasileiras, fundadas por homeopatas. Eram locais de venda de medicamentos, geralmente compostos (os chamados “complexos homeopáticos”), onde havia indicação no balcão, realizada por farmacêuticos ou leigos com longa prática em homeopatia, assim como dispensários, nos quais médicos e homeopatas leigos experientes consultavam seus pacientes. Assim sirgiram as farmácias Murtinho Nobre, Alberto Seabra, Homeoterápico, Almeida Prado, Jade (do farmacêutico Jader de Almeida Cardoso, descendente de família de homeopatas que também tinham farmácias no Rio de Janeiro e Recife). As dinamizações frequentes eram as baixas potências, tomadas em doses repetidas, alternadas ou misturadas.




A partir da década de 80, alguns fatores alteraram este panorama. O médico argentino Eyzayaga foi convidado pela APH para ministrar cursos em São Paulo. Seguidor de Kent, estimulou a prescrição de medicamentos dinamizados até potências mais altas e que requisitavam diferente métodos, mecânicos, para sua obtenção. Também Galvão Nogueira, médico que fundou o grupo Benoit Mure, preocupado com detalhes da qualidade da dinamização, iniciou a farmácia Bento Mure, na qual só se usava métodos manuais. Foi também o responsável por trazer as potências LM (cinquenta milesimais) para nosso país, a partir do México. Médicos ligados a estes grupos necessitavam de medicamentos para seus pacientes e incentivaram a fundação de novas farmácias, como a HN. Outras surgiram de iniciativas de farmacêuticos, como a Cristal, Albion, Cristiano, Sensitiva, Alquimista, etc. Nas outras capitais, o mesmo fenômeno se repetia.

A popularidade da homeopatia começou a crescer, e os farmacêuticos, percebendo que era um mercado de trabalho atraente, voltaram a exercer sua atividade na produção e dispensação dos medicamentos. Voltaram a estar presentes nas farmácias, o que foi notado pela população, que passou a diferenciar farmácias de drogarias. Farmácias homeopáticas passaram a ser um local para divulgação de informações sobre homeopatia, alimentação natural, práticas alternativas, saúde em geral. Além de fonte de renda, o farmacêutico percebeu que seu prestígio aumentou, assim como sua satisfação com a prática original de sua profissão.

Mas a legislação para a área farmacêutica homeopática era inexistente ou estava desatualizada. Com o aumento do número de farmácias, era necessário padronizar as técnicas de preparo dos medicamentos. Assim surgiu a necessidade de redigir um Manual de Normas Técnicas. Algumas associações farmacêuticas homeopáticas estaduais já existiam, como a APFH, em São Paulo. Mas, para fazer mais, era necessária uma associação nacional. No Congresso Brasileiro de Homeopatia de 1988, em Gramado, foram instituídos os Encontros Nacionais de Farmacêuticos Homeopatas. No II Encontro, realizado em São Paulo, em 1990, foi finalmente criada a ABFH, Associação Brasileira de Farmacêuticos Homeopatas. Os Encontros se transformaram em Congressos Brasileiros de Farmácia Homeopática (o primeiro em São Pedro, SP, em 1997; o segundo no Rio de Janeiro em 1999 e o terceiro em Florianópolis, em 2001). Durante os Encontros, e posteriormente os Congressos, foi elaborado o Manual de Normas Técnicas para a Farmácia Homeopática e a Súmula para os Clínicos, bem como o Manual do Consumidor de Medicamentos Homeopáticos. É importante notar que todos os trabalhos para elaboração dos textos são abertos à participação de qualquer associado e a aprovação final dos textos é feita em assambléia.

Em relação à formação do farmacêutico em homeopatia, a Comissão de Ensino da ABFH tem trabalhado, através de Foruns, no estabelecimento de recomendações para cursos de graduação e pós graduação “latu sensu”.
O Conselho Federal de Farmácia estabeleceu resolução sobre o farmacêutico responsável técnico em farmácia homeopática, assim como de especialista, e reconhece cursos, após apreciação de sua documentação.
A Comissão de Título de Especialista da ABFH oferece periodicamente a Prova de Título de Especialista, para aqueles farmacêuticos que desejam ser reconhecidos como tal.

O número de farmacêuticos com formação em homeopatia no país é bastante grande, já que há cursos em diversas regiões do país.

Há alguns anos o medicamento era preparado em farmácias classificadas como “homeopáticas”. Fora dos grandes centros, a dificuldade em manter uma farmácia manipulando apenas medicamentos homeopáticos, fez com que as chamadas “farmácias únicas” se instituissem, isto é, aquelas que manipulam e comercializam qualquer tipo de medicamento. A exigência é que, para preparar medicamentos homeopáticos, a farmácia disponho de laboratório próprio e separado dos demais, e que o farmacêutico possua formação reconhecida em homeopatia. Assim, a produção do medicamento ocorre em farmácias localizadas no país inteiro, que adquirem tinturas-mãe ou matrizes dinamizadas de laboratórios industriais nacionais ou estrangeiros. A partir daí, dinamizam, se necessário, e dispensam as prescrições de médicos, dentistas e veterinários homeopatas.

Em outros países, a produção dos medicamentos está concentrada em laboratórios industriais, que fornecem medicamentos já prontos para atendimento dos pacientes. Farmacêuticos trabalham em indústrias ou apenas revendem medicamentos homeopáticos, como ocorre em relação aos remédios alopáticos, nas drogarias de nosso país.

No modelo brasileiro, o atendimento das prescrições pode ser mais individualizado, além de ter tido o mérito de ter trazido o farmacêutico de volta para o atendimento da população nas farmácias.

O reconhecimento do bom trabalho realizado pelos farmacêuticos no Brasil pode ser visto pelo respeito que a classe recebe nos meios farmacêuticos, pelo crescimento da participação nas decisões técnicas e legislativas dos órgãos sanitários oficiais, e também pela atuação na Secretariad e Farmácia da Liga Médica Homeopática Internacional, que, pela quarta vez consecutiva é ocupada por farmacêutico brasileiro.


Escrito por Francisco Sollero.

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