Dificuldade de relacionamento com preferência pela solidão e
modos arredios, aparente insensibilidade à dor, hiperatividade ou extrema
inatividade, insistência em repetição e resistência à mudança de rotina,
dificuldade em expressar necessidades, acessos de raiva e irregular habilidade
motora. Estas são, segundo a Associação Americana de Autismo (Autism Society of
American – ASA), algumas das características de pessoas com autismo. “O autismo
pode ser considerado como a perda global, em maior ou menor grau, da capacidade
de se comunicar, socializar, aprender ou de executar um comportamento adaptado
ao meio acarretando uma perda consequente no desenvolvimento da criança ou do
adulto.
Faz parte de um grupo
de síndromes de Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) que engloba a
Síndrome de Asperger e outros”, explica o médico homeopata Renato Azambuja.
“É importante deixar claro que o autismo não é uma entidade
única. Hoje o compreendemos como um distúrbio do desenvolvimento complexo,
cujas manifestações mais visíveis se apresentam na esfera comportamental,
incluindo principalmente déficits nas áreas de comunicação, comportamento e
socialização do indivíduo. Sua etiologia tem origens múltiplas e se apresenta
em graus variados de gravidade em sua manifestação”, acrescenta a médica
Geórgia Regina Macedo de Meneses Fonseca, que é membro-diretor da Federação
Brasileira de Homeopatia, pesquisadora em Autismo da Federação Brasileira de
Homeopatia Membro do Programa Estadual de Homeopatia da Secretaria de Estado de
Saúde do Rio de Janeiro.
Epidemia
De acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas
(ONU), o autismo atinge cerca de 70 milhões de pessoas no mundo. Somente nos
Estados Unidos afeta 1 em cada 88 nascimentos. No Brasil, ainda não há
estatísticas oficiais, mas aqui, assim como em todo o mundo, tem havido,
recentemente, a percepção de um aumento no número de casos. Alguns chegam a
falar em “epidemia” de autismo. “Segundo a ONU, o aumento da prevalência do
autismo nos últimos anos levanta a questão sobre haver uma ‘epidemia’ da síndrome
entre os seres humanos, questão ainda em debate nos meios científicos
tradicionais”, diz Renato.
Segundo Geórgia, em 30 de março de 2012 o Centro para
Controle e Prevenção de Doenças (CDC) do governo americano publicou uma
estatística baseada no número de crianças em idade escolar que apresentaram
necessidade em serem atendidas pelo sistema especial de saúde e desenvolvimento
infantil daquele país. “Uma em cada 88 crianças em idade escolar nos Estados
Unidos estavam portando diagnóstico de algum grau de autismo. Isto representou
32% de aumento nas estatísticas”, diz. Ela acrescenta: “apesar das alegações de
que o aumento relatado no número de casos de autismo se deve à melhora na
capacidade dos serviços de saúde darem o diagnóstico, essas assertivas não correspondem
a realidade do ponto de vista estatístico geral”.
Diagnóstico e tratamento
Não há um consenso em relação às causas do autismo.
“Competem fatores psicológicos, que podem claramente agravar a síndrome,
fatores genéticos ainda não identificados e fatores ambientais. No entanto, as
pesquisas estão longe de uma definição e o Autismo é caracterizado como
síndrome clínica de caráter fenomenológico”, diz Renato. Da mesma, forma, não
há um tratamento específico. Ao contrário, há muitas controvérsias quanto à
melhor maneira de conduzir o cuidado.
“Novas pesquisas sobre o autismo têm demonstrado que ele é
uma condição que afeta múltiplos sistemas orgânicos. Os pacientes apresentam
alterações gastrointestinais frequentes, múltiplas alergias alimentares, alterações
imunológicas com múltiplas infecções, alterações do sistema sensorial,
endócrino e metabólico, que devem sempre ser investigadas e tratadas. E o
médico hoje deve estar sempre atento a estas comorbidades para que não se deixe
cair no engodo de que todas as alterações de comportamento que seu paciente
venha porventura a apresentar se devem apenas a agravação do estado mental,
dispensando-se do papel de clínico e investigador de uma criança que, por estar
trancada em si mesma, não poderá manifestar suas queixas orgânicas como nos faz
o paciente comum”, destaca Geórgia.
Homeopatia
Neste sentido, a Homeopatia se apresenta como uma aliada. “O
elemento básico que fundamenta o diagnóstico e a terapêutica homeopática é o
sintoma relatado nas palavras e atitudes do doente, além daqueles observados
pelo médico. É uma prática médica alicerçada no fenômeno do sentir de cada um,
associada a uma técnica de escolha dos sintomas característicos e
idiossincrásicos de cada caso individual de doença”, explica Renato.
Segundo ele, a Homeopatia tem muito a oferecer no tratamento
dos sintomas desta síndrome. “A Homeopatia carrega em sua doutrina a tese de
padrões de adoecimento. São conjuntos de sintomas de significado peculiar e que
apontam para um modo específico de adoecer ou então de uma predisposição básica
de adoecer do indivíduo. São padrões dinâmicos de adoecimento e o nome que
levam pouco tem a ver com o que se conhece hoje em termos das patologias
envolvidas”, explica.
“Para uma prescrição acurada do remédio homeopático, faz-se
necessária a compilação de sinais e sintomas que individualizam cada paciente,
englobando aspectos físicos, mentais e emocionais. Conta-se com a leitura
clínica do homeopata, associada à observação dos pais/acompanhantes. Mas ainda
há muita falta de informação por parte da população e, inclusive, dos médicos
alopatas sobre a abrangência da Homeopatia Unicista”, diz a médica homeopata
unicista Sarita Nigri.
Casos clínicos
Ela conta que já acompanhou três pacientes: dois com
diagnóstico de autismo e um com Síndrome de Asperger. “O paciente com Asperger
e um dos autistas obtiveram excelente resposta nas áreas de comunicação,
socialização e aprendizado. Já o terceiro, abandonou o tratamento por decisão
da mãe. O autista que teve grande progresso era aluno de uma escola pública,
orientado pela diretora, que é minha paciente, a experimentar uma nova
terapêutica”, relata.
Já Renato acompanhou quatro casos, três meninos e uma
menina. “Todos procuraram auxílio homeopático porque é comum haver, nestas
crianças, infecções de vias aéreas de nível superior, o que proporciona uma
porta de entrada para a abordagem de nossa especialidade nos casos. Em dois
deles o diagnóstico de Transtorno Global do Desenvolvimento foi realizado por
mim durante o tratamento homeopático, uma vez que os sintomas foram sendo
observados. Em dois outros a agressividade física e inquietude eram marcantes”,
conta.
Segundo ele, em um dos pacientes a ausência de socialização
era marcante, a não ser por se relacionar com o mundo através da música. Outra
era calada e não fixava olhos em ninguém, nem nos pais. E foi justamente a
menina que teve evolução global mais marcante, tanto do ponto de vista físico
como mental. “Hoje conversa bem, mudou o olhar e apresenta um desenvolvimento
praticamente normal”, diz.
Experiência profissional e pessoal
Já a experiência de Geórgia, como ela mesma diz, rende
extensos e profundos relatos. “Minha experiência com autismo começou com o
sofrimento pessoal pelo diagnóstico de minha filha mais nova com o transtorno.
Com a sensação de dor, impotência, perplexidade e revolta de uma mãe que sente
como se seu bebê tivesse sido subitamente arrancado de seus braços! A
experiência como médica foi a de tentar racionalizar soluções, pesquisar e
buscar respostas, tentar achar o caminho da cura através de ações práticas e
efetivas o que, no campo do autismo, só quem lida diretamente vem a descobrir
que as coisas não são tão fáceis como a prática comum da medicina nos conduz”,
conta.
“Comecei, então, por fazer um levantamento repertorial de
todos os sintomas relacionados com o autismo, percorrendo todos os sintomas
mentais, até os gerais e particulares. Durante este trabalho recebi grande
apoio e ajuda de Fábio Bolognani, presidente da Federação Brasileira de
Homeopatia, que me auxiliou não só no tratamento de minha filha como a pensar
nas rubricas, juntar as peças, compor as imagens. A partir deste ponto traçamos
um plano terapêutico especialmente voltado para o autismo, que é único e
abalizado sobre os moldes da experiência de anos de trabalho da FHB com as
crianças especiais”, diz.
Eles montaram um modelo de intervenção terapêutica para o
autismo que Geórgia chama de FHB Model to Healing Autism. “Contamos hoje com
mais de 200 pacientes beneficiados por este nosso particular modelo de
tratamento”, estima. Ela realizou estudos e teve trabalhos publicados em
revistas internacionais, mas afirma: “acima de quaisquer resultados obtidos em
testes e publicados, o que mais nos move e alegra a cada dia é poder constatar
ao vivo aquilo que nosso mestre Fábio Bolognani sempre colocou como o ponto
principal de nosso trabalho: podermos observar a volta da inclusão
sócio-familiar destes pacientes e a incrível melhoria na qualidade de vida
destas famílias!”
Para ler o relato completo de Geórgia: http://www.ecomedicina.com.br/site/conteudo/noticia136.asp