Hahnemann (o médico criador da Medicina Homeopática) se preocupou extremamente com as incertezas que reinavam nos conceitos
terapêuticos da sua época, fato que inclusive o leva a abandonar o exercício
clínico durante alguns anos ; enquanto traduzia a matéria médica de Cullen, em
1790, fica impressionado com os elogios que este autor fazia à tintura da China
(Chinchona officinalis) na sua ação em um grande número de doenças,
muito diferentes entre si e muitas vezes de causas contrárias. Hahnemann, para
elucidar estas contradições, resolve que a melhor forma de esclarecer essas
contradições seria experimentar esta substância no homem saudável para
verificar e identificar todos os seus efeitos.
Desta
forma, ele mesmo toma a tintura da China durante vários dias consecutivos até
começar a experimentar em si mesmo vários dos efeitos análogos aos que
Cullen queria combater quando recomendava esta substância, tais como fraqueza,
febre intermitente, dores reumáticas, propensão ao suor, etc.
Desta
forma acontece o insigth do criador da homeopatia, que enxerga nestes
fenômenos uma confirmação da lei dos semelhantes, já observada, como dissemos,
por Hipócrates e por Paracelso. Consciente da dimensão que poderia ter a
aplicação desta lei a nível médico e farmacológico, Hahnemann repete esta mesma
experiência com diferentes substâncias.
Observa
que estas diferentes substancias administradas em doses “grandes” (na sua
primeira época de pesquisa utilizava as substancias sem nenhuma diluição) a
indivíduos sensíveis, mas saudáveis, produziam sintomas semelhantes aos
que apresentavam os enfermos que se pretendia curar.
Todas
as substâncias que ele estudou não só se mostraram eficazes contra as doenças
que apresentavam manifestações semelhantes às suas patogenesias, como também
desenvolveram uma eficácia toda particular, muito mais direta, mais rápida e
mais radical que todos os outros medicamentos até então empregados contra essas
mesmas doenças.
Hahnemann repetiu estas experiências durante quinze
anos para posteriormente publicar seu primeiro tratado sob o titulo de “Fragmenta
de Viribus Medicamentorum Positivis” que continha os efeitos dos
medicamentos que ele tinha experimentado até esse momento, e um segundo tratado
intitulado “Medicina da Experiência” (v. Hahnemann, “Ètudes de
médicine Homoeopathique”, Paris, 1855, t. I, págs. 285 a 342) onde expunha
toda uma nova doutrina médica, na qual o autor estabelecia regras fixas
e invariáveis para uma terapêutica metódica e racional. ....
A utilização da medicina baseada no principio da semelhança – similia
similubus curentur –, encontra-se em outros autores não homeopatas como von
Haller, Stoerck, Alberti–La Bruguiere [Boyd – 1936], mas foi certamente
Hahnemann quem construiu todo o edifício de um novo modelo médico sobre os
alicerces de novos conceitos médicos nascidos de dados experimentais puros..
Mas...dois
séculos se passaram para que finalmente ocorresse a publicação deste seu
trabalho num jornal alemão: “Versuch über ein neues Prinzip zur Auffindung
der Heilkräfte der Arzneisubstanzen” (Ensaio sobre um novo princípio para
verificar o poder curativo dos fármacos) [Hahnemann, 1796].
Esta
publicação é considerada pelos historiadores da medicina como a primeira obra
na qual o modelo médico experimental hahnamanniano é enunciado em
detalhe, marcando assim o início da homeopatia.
Este ensaio trata principalmente da experimentação
medicamentosa em medicina e os fatores relacionados com a toxicidade dos
medicamentos
inclusive
demonstrando que os efeitos são também dose-dependente.
Entre
as observações preliminares feitas pelo criador da homeopatia encontramos:
“A
maioria dos medicamentos tem mais de uma ação; a primeira, uma ação direta que
aos poucos muda para a segunda (que chamo de ação secundaria indireta).
Essa ultima é em geral um estado exatamente oposto à primeira...”
“Se,
num caso de doença crônica, é dado um medicamento cuja ação direta primaria
corresponde à doença, a ação secundaria indireta é às vezes
exatamente o estado do corpo que se busca produzir mais, em outras ocasiões
(especialmente quando é dada uma dose errada), ocorre na ação secundaria uma
desordem que dura algumas horas ou, raramente, alguns dias...”
“...
os remédios paliativos causam muito mal nas doenças crônicas e as tornam ainda
mais obstinadas provavelmente porque, após sua ação antagônica inicial, são
seguidos por uma ação secundaria que é semelhante à própria doença”.
“Quanto
mais numerosos os sintomas mórbidos que o medicamento produz em sua ação
direta, correspondendo aos sintomas da doença a ser curada, mais de perto a
doença artificial se assemelhará àquela que se busca remover e muito mais certo
de que o resultado de sua administração seja favorável”.
“...
Pode ser praticamente considerado um axioma, que os sintomas da ação secundária
sejam o oposto exato daqueles da ação direta...”.
Após
essas observações preliminares, passo agora a ilustrar com exemplos minha
máxima, ou seja, a de que a fim de se descobrir os verdadeiros poderes curativos
de um medicamento para as doenças crônicas, devemos procurar a doença
artificial específica que o mesmo pode desenvolver no corpo humano,
empregando-o numa condição mórbida muito similar no organismo, a qual se deseja
remover... Uma máxima análoga é a de que a fim de se curar radicalmente certas
doenças crônicas devemos buscar medicamentos que possam excitar uma doença
similar (e quanto mais similar melhor) no corpo humano...”.[Hahnemann, 1796].
Observa-se
então que a teoria homeopática não surge de construtivismos teóricos bem
intencionados e sim da experimentação repetida de diferentes substancias em
homens saudáveis , experimentações estas gerenciadas por um médico criterioso,
ético e observador, como explicaremos mais adiante.
Os
pilares deste modelo médico são:
∙ A experimentação no homem são;
∙ A
utilização da Lei da Semelhança para a cura;
∙ A
dose mínima;
∙ O
remédio único.
Devemos
destacar que o último pilar só é considerado pelos homeopatas unicistas, já que
os homeopatas pluralistas usam vários medicamentos simultaneamente.
Fonte: Princípios do método homeopático - capítulo 9
Autores Paolo Bellavite - Graciela Martinez
Livro Medicina Biodinamica - Paolo Bellavite - Papirus Editora
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