25 de fev. de 2010

O Médico Homeopata e a Arte de Curar

Você já tomou remédio hoje? Como não? Então você deve estar doente! Hoje, a vida sem remédio parece inviável, não é mesmo? Até nos causa chateação, quando por uma mísera gripe, a empregada, o amigo, o parente e naturalmente o farmacêutico ou médico nos perguntam: você não vai tomar nada...? Mas como a humanidade conseguiu ultrapassar os tempos e chegar aos dias de hoje – aliás, diga-se de passagem, com crescimento assustador– até então, sem a presença de tanta droga
Essa cultura consumista de medicamentos que vivenciamos hoje se deve naturalmente a um fator econômico dominante, onde a propaganda dos produtos farmacêuticos é tão indiscriminada que muitas vezes parece mais se tratar de produtos alimentícios do que de produtos que deveriam ser utilizados com severos critérios de prescrição. Mas também devemos ponderar que num país onde a falta de esclarecimentos sobre assuntos pertinentes a esta esfera é tão deficiente, que colabora imensamente para que isto aconteça.

O mistério da vida e da morte, ou seja, de onde vim e para onde vou, nos faz buscar a qualquer preço terapias e produtos que garantam permanecer neste mundo o máximo possível. A vida não admite nenhuma outra definição mais clara do que simplesmente: ‘ela é isso que ela é‘. A vida é definida pela observação de suas características próprias – reprodução, auto-organização etc. – e ninguém conseguiu até hoje, mesmo os grandes filósofos do passado, conceituá-la melhor.

E a morte é o fim da vida? Não, a morte assim como o nascimento faz parte da vida, ou seja, viver nada mais é do que nascer, auto-organizar-se, reproduzir-se e morrer. O morrer faz parte da vida, é irmã do nascer; não é possível haver morte sem vida...

Partindo-se deste entendimento, é possível concluir que o importante na vida não é evitar a morte e nem tampouco retardá-la além da sua ‘programação‘, afinal, se houve um momento para nascer, haverá um momento para morrer. Pois bem, a merecida felicidade buscada por todo ser humano deve ser conquistada dentro destes dois pilares ‘mundanos‘, ou seja, o nascer e o morrer.
A doença nada mais é do que a um processo de adaptação biológica ao meio circundante, o mundo cosmobiológico social que rodeia o indivíduo, e esta adaptação não é só instintiva se não que se produz com a inteligência, a capacidade de decidir, raciocinar, ponderar as circunstâncias, pelo que a doença quer dizer, a adaptação é um problema de liberdade.

Difícil de entender? Não! Vejam, a doença não seria o contrário de saúde? O que é saúde?Saúde segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), é o ‘estado de bem estar físico,psíquico e social‘, ou seja, não significa apenas estar sem sintomas de doenças físicas (dores, feridas, febres, etc.), mas também estar com paz de espírito, de bem com o semelhante, ‘de bem com a vida, livre...!‘.

Portanto, quando buscamos saúde deveríamos buscar o que? Acabar com a dor, com a coceira, com a acidez do estomago, com a hepatite, com a meningite, etc? Com certeza esta é uma das buscas da saúde. Mas acabando com a dor de estomago, será que o paciente vai estar com saúde? E se ele não tiver mais dor de estomago e continuar nervoso, briguento,com insônia, ele está curado? Não! Temos que refletir, imparcialmente, sobre todos estes aspectos a fim de entendermos o que significa curar.

Curar é conhecer o sentido da doença, é evoluir com a adversidade; curar não significa tirar a doença e sim lhe eliminar a causa existencial profunda (conflito existencial). Toda doença tem início num desequilíbrio psíquico do paciente, ou seja toda doença migra do emocional para o físico.

Para Hipócrates (460-377 a.C.), considerado o pai da Medicina o tratamento das doenças era constituído por três princípios básicos:

1-A natureza se encarrega de restabelecer a saúde do doente e cabe ao médico tratar o paciente imitando a natureza, a fim de conduzi-lo a um perfeito estado de saúde ( vis medicatrix naturae).

2-Os sintomas podem ser tratados diretamente com medidas contrárias a eles.( contraria contrariis curentur).

3-A doença pode ser debelada por aplicação de medidas semelhante à doença, chamada Lei dos Semelhantes (similia similibus curentur)

Muitas vezes (a maioria delas), a natureza trata de equilibrar o indivíduo de maneira tal, que nenhuma providência medicamentosa se faz necessária, mesmo diante de sintomas aparentemente sérios. No entanto, naquelas poucas vezes em que ela se torna incapaz de reconduzir o doente no caminho da cura, um auxílio medicamentoso é exigido.

Daí, o uso de medicamentos que tenham ação contrária aos sintomas despertados pela doença (alopatia) ou medicamentos que tenham a propriedade de eliminar a doença através da ação semelhante aos sintomas por ela produzidos (homeopatia), são terapêuticas que podemos utilizar.

Tratar pelo contrário (antiácidos para acidez do estômago, antitérmicos para baixar a febre, etc) e tratar pelo semelhante (o que causa a doença, também é capaz de curá-la), significa basicamente tratar do órgão doente pela primeira e tratar do indivíduo que possui um desequilíbrio levando-o a manifestar sintomas num determinado órgão, pela segunda.

Vamos entender melhor, com uma comparação extravagante. Imaginemos que um trem lotado de passageiros esteja em extrema velocidade por ausência do maquinista (acabara de enfartar...). Na eminência de descarrilar, a base de comando, uma vez comunicada, apresenta duas propostas para resolver a situação. Pode, imediatamente colocar outra locomotiva em alta velocidade em sentido contrário, na mesma linha, de forma que ao colidirem frontalmente, a ‘velocidade automaticamente cessará...‘, mas o que acontecerá com o trem e os passageiros? Bem, se a idéia era parar o trem simplesmente, ‘bingo‘.

Agora, resta a segunda opção, que seria colocar outra locomotiva em disparada no mesmo sentido, que, ao atingirem a mesma velocidade, se engatariam e o processo de frenagem aconteceria, retornando até a velocidade inicial e segura da viagem, ficando, portanto, salvos tanto a máquina como todos seus ocupantes ( neste caso, a idéia não era simplesmente parar a máquina).

Acreditem que esta técnica de ‘salvamento‘ existe e é largamente usada em todo mundo.

Exige conhecimentos profundos, observação acurada, análises precisas e conclusões certeiras, daí ser chamada de arte de curar.


Dr. Geraldo S.Morato

(Geraldo S. Morato é médico veterinário homeopata e docente do Cesaho (Centro de Estudos Avançados em Homeopatia)

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