7 de mar. de 2009

A Imunologia encontra identidade na prática homeopática

Na interface entre a saúde e a doença





A expansão do conhecimento da Imunologia neste século contribuiu sobremaneira para a sua consolidação como uma Ciência Biológica-Médica. O seu instrumental de ciência experimental deriva dos estudos monitorados pela Bioquímica, Biologia Molecular, Genética, Histologia, Fisiologia, entre outras disciplinas. A sua estratégia de ciência aplicada à Medicina, buscando uma precisão clínica, ultrapassou em muito as perspectivas que fundamentaram o pensamento médico por mais de um século, no qual o Sistema Imune (SI) se prestava primordialmente para a defesa do organismo em conexão direta ao combate das moléstias infecto-contagiosas.

Essa premissa empírica serviu aos argumentos de ilustres pesquisadores como Pasteur, Koch, Behring e tantos outros do final do século XIX para o inicio do século XX. A Imunologia foi inicialmente justificada como um objeto central para resolver os problemas médicos das grandes epidemias que assolavam a humanidade. Este conceito transformado em generalidade, estabeleceu que para cada doença haveria um agente microbiano associado, contra o qual poderia se produzir uma vacina. E assim foram consolidadas as práticas preventivas ou profiláticas da vacinoterapia e da soroterapia.

A amplitude do conhecimento atual da ação do sistema imune vem desencadeando entre muitos imunologistas um posicionamento de vanguarda que busca uma mudança do paradigma imunológico. O argumento que destacamos diz respeito às evidências de que o SI não existe apenas para nos defender contra as diferentes agressões ao corpo (microrganismos, substâncias alergênicas, esquemas de vacinação). Este representa hoje muito mais que uma simples operação de resposta em defesa contra um agente patogênico.

Células especiais – Essa resposta ao distúrbio gerado pela infecção, corresponde apenas ao resultado das suas manifestações. Ele opera com células especiais os linfócitos T e B, que circulam constantemente e são as responsáveis pela resposta imune; e células auxiliares (macrófagos, dentrícas, etc.) com função de processarem e apresentarem os antígenos aos linfócitos, para indução da resposta imune. As moléculas livres (citocinas, anticorpos, etc.) ou associadas à superfície das células (adesinas, receptores de antigenos dos linfócitos B, BCR, ou dos linfócitos T, TCR, diferentes marcadores genéticos como os de histocompatibilidade – antígenos do MHC classes I e II, etc.) representam um outro referencial importante para a sua operação.

Existe um potencial de repertórios linfocitários (T e B) com receptores que ultrapassam todas as previsões teóricas naturais ou imaginárias, sugerindo uma completitude para respostas imunes específicas. Assim, os indivíduos elaboram um arsenal de linfócitos com esses receptores complementares a qualquer estrutura molecular. Essa diversidade é determinada por um controle genético que é o único descrito nos seres vivos: para a síntese de um receptor de antígeno da célula B (BCR) ou da molécula similar secretada de anticorpo; ou do receptor de antígeno de célula T (TCR), além da participação de vários genes para a codificação de uma única cadeia polipeptídica, a biosíntese de uma pequena região variável nas cadeias dessas moléculas resulta do rearranjo ao acaso de genes encontrados em famílias multigênicas. O resultado dessa proeza amplia essa diversidade para um potencial da ordem de 10¹² linfócitos. E tudo isso acontece dentro do corpo independente de qualquer estimulação específica anterior. Experimentos em fetos e recém-nascidos provaram que o SI já está operando independentemente de qualquer estímulo.

Ponto discutível – Assim, o que vem a ser a resposta imune específica resultante de uma infecção ou de uma vacinação, senão o resultado de um distúrbio de proporção global provocado no organismo? E as suas conseqüências serão sempre benéficas? Este é um ponto discutível, considerando-se que nem sempre podemos visualizar além do resultado imediato, sem o conhecimento de seqüelas futuras. Ademais, tomando-se como exemplo o estudo das vacinas, não tivemos um sucesso expressivo que garantisse uma regra de operação do SI, isto é, o organismo responde de diferentes maneiras para diferentes antígenos. Por isso, não é curioso que apenas cerca de 15 vacinas sejam reconhecidas como eficazes pela OMS?

Esse conhecimento acumulado reforça a idéia de que o SI opera em equilíbrio dentro do nosso corpo. Entretanto, pouco temos explorado sobre os mecanismos de regulação dessa atividade fisiológica como um todo: do significado funcional da rede de interações idiotípicas de complementação entre moléculas de anticorpos livres ou presas nos linfócitos B e sua conexão com as moléculas nas células T; da amplitude da rede de citocinas com suas inúmeras conexões passíveis de sinalização regulatória; dos mecanismos associados à tolerância imunológica, em especial a realizada junto às diferentes mucosas através da alimentação e da respiração; da definição de especificidades nas respostas imunes decorrentes de ativações policlonais, etc.

Também demonstra que ele interage numa incorrência dinâmica de mão dupla com os sistemas nervoso e endócrino, e em conseqüência com o psicológico.

Coração do bem-estar – Por ser o detentor de uma parte importante dos componentes efetores para realização desse equilíbrio poderíamos nomear o SI como o coração do nosso bem-estar. A biodinâmica resultante dessa ação integrada sugere e corrobora a necessidade de uma intervenção médica também integrada.
Nesse particular encontramos que a biodinâmica de ação integrada do SI se identifica com a premissa da Ciência Médica Homeopática consagrada por Hahnenmann e hoje reconhecidamente empregada por muitos adeptos.

Na abordagem da ciência convencional reducionista, onde a grande importância se volta para o estudo das partes, a Medicina Alopática aqui inserida prioriza o destaque clínico e terapêutico da doença. Ao contrário dessa prática científica, onde a importância se volta para o estudo global, a Medicina Homeopática aqui inserida, ao invés de uma visão pontual da doença, analisa o indivíduo como um todo, e o entendimento da cura de sua doença tem a abrangência da alteração geral do indivíduo.

É gratificante podermos assistir hoje à discussão sobre o entendimento da interação entre os sistemas imune – nervoso e endócrino e a prática da Medicina Homeopática. Também já se faz otimista a expansão e derivação de estudos imunofisiológicos básicos e clínicos em vista de melhores esclarecimentos para os demais princípios que regem a Homeopatia: Similitude, e eficácia das Diluições e Potencialização dos remédios, além da cura global.

Paulo M. F. Araújo é professor livre docente do Departamento de
Microbiologia e Imunologia do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp


Fonte: Jornal da Universidade Estadual de Campinas(UNICAMP); junho de 2001 - ANO XV - N. 163_______________________________________________

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